A 17ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto levantou como bandeira o tema "Do conhecimento que liberta ao amor que educa - o livro na escola". O evento terminou no domingo, 11, e durante nove dias trouxe uma proposta inovadora da Fundação do Livro e Leitura (instituição realizadora do evento): avançar no seu papel de difusão da leitura para a formação de leitores. O objetivo foi alcançado e impactou diretamente 8.800 estudantes que participaram do projeto “Combinando Palavras”.
Segundo a diretoria da Fundação, esses alunos são crianças e jovens que vão engrossar de forma significativa o número de leitores da cidade e região, num futuro próximo. “A feira manteve a quantidade de visitantes do ano passado, cerca de 180 mil pessoas, mas avançou consideravelmente no seu papel, antes focado na difusão da leitura. Agora, temos a convicção de que colocamos os dois pés na formação efetiva de leitores”, avaliou a presidente da Fundação do Livro e Leitura, Adriana Silva, uma das curadoras da feira. Ela reforça que a Fundação tem consciência de que o trabalho pré-feira feito nas escolas com capacitação de professores, leituras dirigidas aos estudantes, dinâmicas e produção de textos e outras modalidades artísticas, preparou os alunos para os encontros com leitores, despertando neles o desejo da leitura e mais: “os estudantes criaram vínculos com a feira, os professores e os autores”.
O escritor Ignácio de Loyola Brandão, que participou do “Combinando Palavras”, enfatizou que a leitura é a maior viagem que uma pessoa pode fazer na vida. Ele elogiou o projeto e alertou que a ideia deveria ser implantada em todo o país. “Temos que formar leitores e isso começa dentro de casa, com os pais, depois nas escolas e em iniciativas como essa da Feira do Livro”.
Nélida Piñon (foto), também presente nesta edição do evento, demonstrou-se muito emocionada com a participação e o envolvimento dos estudantes. A escritora recomendou a leitura aos mais de mil alunos que vieram para vê-la e ouvi-la. Na sua avaliação, a formação de leitores é o único caminho para salvar as pessoas e o país. “Como é que o ser humano pode viver integralmente, ser um cidadão completo, uma criatura cívica, se não tem acesso aos livros. Se não pode pensar?, indagou dando a resposta imediata: “pensar não é um privilégio, é uma necessidade”.
Adriana Silva revela que o “Combinando Palavras” deu origem a um relatório de 300 páginas com a produção dos alunos. O documento foi entregue aos escritores e também foi transformado num e-book. “Esse é um projeto que definitivamente fará de Ribeirão Preto uma cidade de leitores. E se assim acontecer, seremos modelo”, ressalta.
Combinando Palavras - O projeto foi neste ano implementado em parceria com a Diretoria de Ensino e apoio do Sesc. Criado no ano de 2007, na Escola Otoniel Mota, ganhou sustentabilidade e ampliou os horizontes de sua atuação, o que possibilitou a vinda de seis autores de grande relevância no cenário nacional para uma interação com estudantes. Com a sua reformulação, o primeiro passo foi a realização de oficinas de capacitação para os professore e realização de salões de ideias. O segundo passo foi envolver alunos da rede pública de ensino, que passaram a estudar a obra dos autores participantes. “Foi tão importante para os estudantes e professores quanto para os escritores - que reconheceram a dedicação e envolvimento das escolas e se emocionaram muito durante a feira”, conta a coordenadora de programação da feira e uma das curadoras da feira, Laura Abbad.
Origem e Evolução – Inicialmente realizado na Escola Estadual Otoniel Mota, o “Combinando Palavras” contava com a coordenação da professora Heloisa Alves, hoje curadora do projeto. Tradicionalmente era encerrado na Feira do Livro, com o lançamento de um livro com textos produzidos pelos estudantes, inspirados no escritor escolhido a cada ano. A diretora de ensino de Ribeirão Preto, Simone Maria Locca, explica que participaram cerca de 50 professores. “A proposta vem ao encontro do Currículo Oficial da SEE/SP, uma vez que evidencia a competência leitora como ponto de partida para a aprendizagem em sala de aula”, frisa. Para o gerente do Sesc Ribeirão Preto, Mauro Jensen, essa parceria se estabelece a partir de objetivos comuns entre as instituições – o estímulo à leitura e à formação de leitores. “Enxergo o projeto como uma grande oportunidade para estes estudantes, pois diversifica a situação de aprendizagem”.
Ação cooperada – Segundo a superintendente da Fundação do Livro e Leitura, Viviane Mendonça, todo o esforço da Fundação para a transformação do papel da Feira Nacional do Livro contou com instituições que foram protagonistas no processo de preparação do evento. “Neste ano, a feira trouxe muitas novidades em ampla programação, possibilitada pela força conjunta das grandes parcerias como o Sesc, Sesi, Senac, Diretoria de Ensino, Universidades e entidades locais, além do apoio de empresas e organizações e da valorização cultural, o que consagrou a grandiosidade do evento”.
O resultado deste esforço conjunto proporcionou uma programação qualificada com diferentes vertentes de reflexões levantadas por autores, educadores, artistas e intelectuais. Juntos e, com a intensa participação do público, eles apresentaram pensamentos que colocaram a literatura como fonte de evolução permanente do ser humano. “A feira trouxe uma efervescência cultural que se instalou no Quarteirão Paulista e tomou conta de Ribeirão Preto e da população que se fez presente em grande quantidade nos oito dias de evento”, afirmam os organizadores.
Outro atrativo trouxe um nível de excelência e projeção à Feira do Livro no cenário mundial: a Conferência Internacional de Literatura e Educação – um amplo espaço de debate e de capacitação para mais de 3 mil professores e estudantes, reunindo conferencistas de Portugal, Itália e Brasil – ícones da educação que sinalizaram caminhos e soluções para o futuro da escola e da educação em todo o mundo, como o reitor honorário da Universidade de Lisboa, António Nóvoa. Ele ressaltou que “o modelo escolar está perdendo seu brilho e, sem mudanças, pode decretar o fim da escola”, alertou. Outra proposição que mobilizou o público veio do português José Pacheco: “o ato de ensinar também é um ato de amor. Para que o aluno possa aprender é preciso estabelecer um vínculo, saber como cativar e se relacionar com o aprendiz”, afirmou. O evento também contou com a participação do autor educação homenageado, César Nunes e com a videoconferência com o italiano Mauro Maldonato e mediação presencial do crítico literário, Manuel da Costa Pinto – atividade realizada em parceria com as Edições Sesc.
Sessão Jabuti – Mais uma vez, a Feira promoveu a Sessão Jabuti. Nesta 17ª edição, a abertura contou com a consagrada escritora Marina Colasanti, no dia 4 de junho. A autora, que é detentora de sete prêmios Jabuti, disse que tem extrema necessidade da leitura. “O ato de ler é uma forma de apreender, conhecer e estar no mundo”. Também participaram da série Jabuti os autores: Dermeval Saviani (filósofo e pedagogo); Michel Laub, considerado um dos melhores jovens escritores brasileiros pela revista Granta; Lira Neto, jornalista e autor especializado em biografias e Antonio Prata, escritor e roteirista de cinema e TV, que fechou a Sessão, desvendando o cotidiano profissional e universo da crônica – seu principal gênero de atuação.
Diversidade de enfoques - A Feira abordou vários temas complementares, como os discutidos nos Encontros de Professores com a Literatura, promovidos pelo Sesi e Senac; bate-papos com autores locais e lançamentos de livros; palestras do Comad (Conselho Municipal sobre Álcool e Drogas de Ribeirão Preto); debates sobre educação inclusiva promovidos pela OAB, Salões de Ideias coordenados pela Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto); sarau e exposição de fotos realizados pelo Centro Universitário Moura Lacerda, além de prêmios literários com diversas instituições e outros.
Agenda cultural - Presente em 13 espaços simultâneos – entre teatros, bibliotecas, Esplanada do Pedro II, Praça do Leitor, Praça Carlos Gomes, Tenda Sesc, Shopping Iguatemi, Teatro Marista, Centro Cultural Palace e outros ambientes, a programação cultural atingiu diferentes idades e movimentou a Feira com todo tipo de manifestação artística: poesia, teatro, dança, cinema, música, contações de histórias, além de diversas oficinas, intervenções urbanas, exposições fotográficas e espetáculos – desde a abertura com o Concerto Sinfônico da Orquestra USP Filarmônica e o grupo Alma (Academia Livre de Música e Artes); o show Estado de Poesia, com Chico César (promovido pelo Sesc); apresentação da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto com participações especiais; mostra de corais da cidade e de espetáculos do curso de Música da Unaerp, entre vários outros. O encerramento contou com o show “A Casa é Sua”, de Arnaldo Antunes (foto; Galeria de Fotos), que lotou o Pedro II e deixou a cidade em coro.
Grande parte desta programação foi realizada em parceria com o Sesc, que programou atividades que ganharam a cena e a participação da população. O gerente do Sesc Ribeirão, Mauro Jensen, disse que realizar programações externas está nas origens de muitas ações que a instituição desenvolve hoje. “Trabalhar “fora de casa” está no DNA do Sesc. O objetivo principal na parceria com a Fundação do Livro e Leitura foi contribuir de alguma forma para a formação de um público leitor”.
Poetas de Mococa na programação - Os poetas mocoquenses Antonio Ventura, Débora Ventura e Antonio Perucello Ventura fizeram parte da programação da Feira, participando, no domingo, 4, do “Salão de Ideias”, no Centro Cultural Palace, Auditório 1º andar. Os poetas apresentaram a palestra “A força da literatura e da poesia - O conhecimento que liberta”.
Membro da Academia Ribeirãopretana de Letras, Antonio Ventura é autor dos livros “A Educação pelo Abismo” (Topbooks, 2016), “O Guardador de Abismos” (Topbooks, 2014) e “O Catador de Palavras” (Topbooks, 2011); Débora Ventura é autora do livro “A Navegante” (Topbooks, 2015); e Toninho Ventura é autor de “Toninho, o poeta A-Ventura” (2014).
Pré-lançamento da 18ª edição - No encerramento da Feira do Livro, a diretoria da Fundação do Livro e Leitura anunciou a 18ª edição da Feira Nacional do Livro de Ribeirão que terá como tema “As Histórias que os livros contam e as leituras que a gente faz” e será realizada de 10 a 17 de junho de 2018. Como em todos os anos, a feira fará homenagem a um país – e o escolhido foi Uruguai. Quanto aos autores celebrados, o escritor principal será Sérgio Buarque de Holanda. Autor educação escolhido é Antônio Candido; a autora infantojuvenil será Marina Colasanti; autor local, Camilo Xavier e a professora homenageada, Heloisa Martins Alves. Como patrono, a feira indicou o advogado Sérgio Roxo da Fonseca.
(Fotos: divulgação)
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