Por Thais Freitas do Vale, da AUN/USP
Entre 2004 e 2010 cresceu 75% o número de estudantes do Brasil que já colocou a saúde em risco para entrar em forma, especialmente para ganhar músculos. Os dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), instituição ligada à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), preocupa os especialistas, especialmente pelo desconhecimento dos jovens em relação ao que consomem.
Apesar de associar-se o termo genérico “bomba” com os efeitos dos suplementos alimentares e dos fármacos, eles são muito diferentes. Como explica o professor Antonio Herbert Lancha Jr, do Laboratório de Nutrição e Metabolismo da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), os suplementos se baseiam em nutrientes que estão presentes nos alimentos, que desempenham uma função específica no organismo. Já o fármaco tem efeito mais potente e pode conter hormônios e antiinflamatórios.
A princípio, a nossa necessidade de nutrientes é suprida pela alimentação,mas pode haver alguns benefícios específicos que justificam o uso dos suplementos. Por exemplo, o consumo de mel após o exercício aumenta a taxa glicêmica, diminui a secreção de cortisol (que é um imunossupressor) e reduz a queda imunitária após o exercício. Porém, por praticidade o indivíduo pode ingerir um suplemento específico para obter o mesmo resultado. Assim, o suplemento consiste na utilização de certos nutrientes (como carboidratos, lipídios, proteínas, vitaminas, minerais e seus derivados) para atender a uma necessidade do organismo, sendo ela fisiológica ou para que o indivíduo se recupere mais rapidamente.
Riscos - Embora muitas vezes os alimentos possam substituir a ingestão de suplementos, as vezes eles tem ação pontual, como a creatina. Encontrada principalmente na carne, traz benefícios para atletas e não atletas. Porém para obter a quantidade de creatina que o suplemento oferece o indivíduo teria que comer uma quantidade muito alta de carne, sofrendo assim com as conseqüências do excesso de gordura e de proteína. Nesse caso o suplemento é uma alternativa. Lancha Jr. ressalta que quando ingerimos mais proteína que o nosso corpo necessita não há mais ganhos de força ou velocidade, e muitas vezes pode haver perdas no desempenho.
Vale lembrar que o suplemento tem uma ação muito mais restrita, conseguindo melhorar o indivíduo contra ele mesmo de forma limitada. Já o fármaco proporciona uma mudança mais palpável, resultando em ganhos e perdas. Por exemplo, na utilização da testosterona, hormônio ligado ao gênero masculino, haverá ganho da massa muscular mas o indivíduo deixará de produzi-lo, o que gera complicações a longo prazo. Outro exemplo é a utilização do Hormônio de Crescimento (GH) com o objetivo de impedir o envelhecimento. Ele promove o crescimento das células, porém nunca é possível prever quais serão atingidas, de forma que células cancerígenas possam crescer também. O uso sem orientação pode causar ainda mudanças físicas, como o gigantismo. Portanto, as conseqüências do uso de fármacos são bem mais intensas que o uso dos suplementos, tanto nos ganhos quanto nas perdas.
Apesar dos riscos, a ingestão de fármacos nem sempre é negativa. O pesquisador cita o exemplo de um médico que detecta em um adolescente a deficiência na produção de determinado hormônio. Nesse caso, o uso do fármaco pode ser essencialmente benéfico. Porém, se a utilização se der por um indivíduo com uma produção normal de hormônios visando superar o limite de competência dele, as conseqüências podem ser graves.
O que leva às pessoas a usarem? - Para quem começa a treinar em uma academia, as mudanças na estrutura corporal podem ser notadas dentro de um mês. Lancha Jr. explica que primeira resposta fisiológica é o ganho de nutrientes pelo músculo, de forma que as células absorvam água, carboidratos e creatina naturalmente, aumentando assim o seu tamanho mas sem aumentar sua força. A partir de doze semanas é que a capacidade contrátil aumenta, aumentando a força do indivíduo. Não há um aumento do número de células, mas a composição delas. Entretanto, a proporção de ganho massa muscular no começo do treinamento é exponencial, e depois de certo tempo é marginal – o indivíduo ainda ganha massa, mas com menor intensidade. Assim, muitos procuram o fármaco, seja para acelerar o processo de ganho de massa e força, seja para possibilitar um ganho de força e massa que supere a capacidade do indivíduo. Essa busca pode ser motivada por razões fisiológica ou emocional.
Porém, essa mudança de capacidade e velocidade podem trazer diversas conseqüências. Uma delas é o fato de o músculo estar ancorado à estrutura óssea via tendão, que tem um processo de maturação mais lento do que o tecido muscular. Na ingestão de fármacos, é possível que o músculo se desenvolva mais rapidamente que o tendão, causando lesões.
Caso parede se exercitar, a tendência é voltar ao que o sujeito era antes. A velocidade de perda é compatível com a velocidade de ganho. Quanto mais tempo ele treina, mais demorado é o processo.
Recomendações - O fármaco é muito mais potente que o suplemento, e por isso ele é sempre atrelado à uma prescrição médica. O suplemento tem atuação dentro do aspecto nutricional, sendo prescrito por nutricionista mediante situação de carência ou eficiência para determinada situação.
Para ambos os usos o professor ressalta que a prescrição deve ser sempre muito individualizada, porque a morfologia e o treinamento dos indivíduos é diferente, mesmo que a modalidade seja semelhante.
(Foto: reprodução)
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