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O outro lado da Vara do Trabalho de Mococa
Cidade - 08/08/2014

O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, cuja jurisdição abarca a Vara do Trabalho de Mococa, está divulgando como vivem os integrantes da equipe da VT de Mococa e também faz uma abordagem das atrações turísticas da cidade. O texto e fotos são de Luiz Manoel Guimarães, com colaboração de Alexandra Xavier. Confira:

“Com quase 70 mil habitantes, Mococa, no nordeste do Estado de São Paulo, é sede de uma jurisdição trabalhista que inclui também o município de Casa Branca, totalizando cerca de 100 mil pessoas atendidas. Instalada na Praça Marechal Deodoro, no Centro da cidade, junto à Prefeitura e à Câmara de Vereadores, a Vara do Trabalho (VT) local recebeu em março passado o Grupo Móvel da Presidência de Atenção às Unidades de Primeira Instância (GMP).

Integrante da equipe da VT, Heitor José Reis Corteze (foto; na Galeria de Fotos), gaúcho de Caxias do Sul, é servidor da Justiça do Trabalho desde 1º de dezembro de 1986. Começou lá mesmo, no Rio Grande do Sul (4ª Região), mais precisamente em Vacaria, a pouco mais de 110 quilômetros de sua terra natal, onde permaneceu residindo. Nove meses depois, quando Heitor foi transferido para Bento Gonçalves, a distância de casa para o trabalho caiu para cerca de 40 quilômetros. Da "capital brasileira da uva e do vinho", o servidor finalmente conseguiu vaga em sua cidade, onde ficou até vir para a 15ª Região, já em Mococa, em 2005, quando a VT foi instalada.

Heitor, no entanto, começou a trabalhar aos 11 anos, numa malharia em Caxias do Sul. Aos 12, era auxiliar de escritório, seu primeiro emprego "de carteira assinada". Com 17, trabalhando como autônomo, fazia a transcrição de dados contábeis, de matrizes de lançamentos para livros diários. "Era o início dos anos 1980, ainda a era pré-computador, e essas informações eram lançadas à mão, uma a uma", explica ele.

A vinda para São Paulo está ligada à atuação na Comunidade Missionária Providência Santíssima (CMPS), sediada em Mococa. Numa mudança de mais de 1.200 quilômetros, Heitor e sua esposa, Luíza, deixaram Caxias do Sul com destino à cidade paulista, trazendo com eles os filhos Carolina, Frederico, Raquel e João Francisco. "Sempre fui engajado na Igreja Católica, fazendo trabalho voluntário em paróquias. Em Caxias do Sul, eu trabalhava com crianças carentes, prestando assistência e promovendo a evangelização, inclusive com música", detalha Heitor, que tem no violão um companheiro fiel no compromisso que propôs a si mesmo. "Quando conhecemos a Comunidade, em 2003, percebemos que a missão protagonizada por ela vem totalmente ao encontro dos nossos anseios em relação à fé e ao nosso trabalho na Igreja, daí a vontade de mudar para Mococa."

A adaptação à nova terra foi fácil, assegura o gaúcho. "O povo é muito acolhedor, e a cidade, bem estruturada. Não faltaram inclusive os recursos necessários ao tratamento de minha filha Raquel, que é diabética. Apesar das diferenças de costumes em relação ao Rio Grande do Sul, não tivemos problemas, muito pelo contrário."

Essa talvez seja a única ressalva que Heitor faz à mudança, o distanciamento das tradições de seu estado. Os bailes gaúchos e os encontros de mateada – ou chimarreada, como eles também dizem –, por exemplo, estão entre os costumes que mais fazem falta a esse desgarrado torcedor do Esporte Clube Juventude, de Caxias do Sul, agremiação que comemorou seu centenário em 2013 e que tem como principal conquista o título da Copa do Brasil de 1999. "Lá é comum as pessoas saírem à rua com uma garrafa térmica de chimarrão, principalmente no inverno, e qualquer pretexto é motivo para uma boa mateada", garante Heitor, que, no entanto, adverte, em tom quase solene: "Chimarrão gelado é ‘heresia'. Gelado é o tererê, que se faz com a mesma erva-mate, mas é oriundo do Mato Grosso e, além de adoçado, leva suco de limão".

Segundo o servidor, os encontros de mateada possuem um ritual que, lamenta ele, nem sempre é seguido. "Deve-se passar a cuia para quem está à direita, e ela só pode ser passada e recebida com a mão direita, também. As mulheres têm preferência, e só se passa o chimarrão após tomá-lo. Além disso, a cuia volta para quem está servindo somente depois de ‘roncar'." Por "roncar", entenda-se aquele som característico produzido pela passagem do líquido derradeiro e do ar pelo canudo, que, no caso, esclareça-se, chama-se bomba ou bombilha.

Prática cristã - Em especial, o que chamou a atenção dos Corteze na filosofia e na prática desenvolvida pela Comunidade Missionária Providência Santíssima foi o envolvimento de toda a família nas atividades de catequese e evangelização, bem como nas obras sociais. "É uma comunidade mista, em que todos podem se integrar ao projeto e participar. Temos, por exemplo, a Juventude Missionária e até a Infância Missionária", esclarece Heitor. Além disso, a instituição não faz restrições de caráter ideológico, recebendo pessoas de todas as correntes da Igreja Católica, como, por exemplo, a Teologia da Libertação e a Renovação Carismática. "Desde os mais conservadores até os mais liberais", garante ele.

Prestes a completar 30 anos – em 4 de outubro próximo –, a CMPS tem a missão de "devolver ao coração do homem o lugar que é de Deus", resume o servidor. Mas a Comunidade "aglutina a ação social com a espiritualidade", afirma ele. Em Mococa, por exemplo, a CMPS desenvolve um projeto de assistência a crianças e adolescentes, de 6 a 18 anos, carentes e em situação de risco. "Todos estão na escola e, no contraturno, são atendidos pela Comunidade, num trabalho assistencial e de reforço pedagógico", esclarece Heitor. Também promove, em reuniões semanais, atividades assistenciais e de formação voltadas a pessoas idosas, diz ele. "O trabalho da CMPS está presente em muitos lugares do Brasil, da Ilha de Marajó ao Rio Grande do Sul, assim como em vários outros países, como França, Canadá e Itália. Há pessoas que se dedicam integralmente à Comunidade, inclusive", completa.

Embora a sede da CMPS em Mococa tenha sido doada pela Ordem Franciscana, a Comunidade não recebe ajuda financeira da Igreja Católica. "A entidade não possui renda fixa. Sustenta-se graças às doações", explica Heitor. A CMPS mantém na cidade o Instituto de Filosofia e Teologia São Francisco e Santa Clara de Assis (Intefisa), onde estudam cerca de 90 alunos, segundo o servidor. A cada ano são ordenados em média cinco padres formados no Instituto, calcula ele. Lá se formam também as chamadas irmãs leigas, que fazem voto de castidade, obediência e pobreza e trabalham nas obras sociais auxiliando as freiras.

Alma de artista - Assim como Heitor, Silvia Helena Mollo Costal (foto; na Galeria de Fotos) é "forasteira" em Mococa. Ou nem tanto, na verdade. Morando na cidade desde quando tinha apenas um ano, Silvia, campineira de nascimento, declara-se uma mocoquense "de carteirinha". Servidora municipal desde 1997, ela está cedida à VT local há sete anos.

A paixão de Silvia são as artes plásticas. Autodidata, ela começou a pintar suas telas em 1988 e, 12 anos depois, já conquistaria o reconhecimento internacional, com a medalha de ouro no Grande Salão Michelangelo Pira, na Sardenha, Itália, e menção honrosa no Ford Lauderdale Art Show, na Flórida, EUA, pelos quadros "Meu Brasil Brasileiro" e "Bromélia", respectivamente.

Entre as suas exposições individuais, destaque para "Muito Além dos Jardins", realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo. Foram 28 telas, resultado de um trabalho delicado à flora brasileira. Na Casa Cor de Florianópolis (SC), expôs oito trabalhos retratando frutas tropicais, vendidos logo no primeiro dia da mostra. O êxito rendeu a Silvia a inclusão no dicionário-catálogo Artes Plásticas Brasil, da Júlio Louzada

Publicações - Com obras em coleções particulares na Alemanha, Canadá, Holanda, Israel, México e Estados Unidos, entre outros países, bem como em vários estados brasileiros, a artista busca inspiração não só na natureza, mas também no relacionamento humano. "Encontrar e cultivar gente amiga, amável e sensível representa o êxtase da arte e da vida. Essa, sem dúvida, é a forma de arte que mais me inspira e que permite levar meu trabalho à frente."

Vaquinha famosa e Cine Mococa - Se, por um lado, a cidade lhe dá nome, por outro, a fábrica de laticínios inaugurada em 1919 e celebrizada pelo jingle criado nos anos 1950 "põe Mococa no mapa", tornando-a conhecida muito além dos limites do Estado de São Paulo. O comercial, aliás, foi relançado dois anos atrás em versão modernizada, mas sem grandes alterações, dando à atual geração a oportunidade de se juntar aos pais e avós no rol de fãs da vaquinha Mococa.

Outra tradição do município é o Cine Mococa, na Rua Coronel Diogo, 1.333, no Centro da cidade. Com 55 anos completados no último dia 18 de maio, a casa nasceu com nada menos do que 1.100 lugares. Posteriormente, a troca das velhas cadeiras de madeira por poltronas mais confortáveis e o aumento do espaço para circulação reduziram a capacidade para 700 espectadores.

O GMP - Criado pelo presidente do TRT-15, desembargador Flavio Allegretti de Campos Cooper, para ser um canal direto de comunicação entre o 1º grau e a Presidência da Corte, o GMP é coordenado pelo juiz Flávio Landi e tem como objetivo principal identificar demandas e criar oportunidades de aprimoramento. As atividades do Grupo em cada unidade incluem uma reflexão conjunta acerca da qualidade de vida pessoal e profissional. Os participantes são convidados a responder um questionário com temas como relações interpessoais no trabalho e sintomas e fontes de estresse. Posteriormente, no retorno da equipe à sede do Tribunal, em Campinas, os resultados são analisados, e as conclusões, enviadas a todos os que participaram das atividades. Até mesmo situações individuais são abordadas, quando há solicitação nesse sentido por parte do juiz ou servidor, e sempre com a preservação do sigilo.

Outra missão do GMP é dar aos servidores da 15ª Região a oportunidade de conhecerem uns aos outros. A proposta é mostrar quem são e como vivem esses profissionais, que, espalhados por mais de cem cidades do Estado de São Paulo, são mais de quatro mil, somando os do próprio quadro do Regional com os cedidos por outros órgãos públicos. Só no ano passado, essa força de trabalho contribuiu de maneira decisiva para a JT da 15ª fazer chegar quase R$ 3,2 bilhões às mãos de seus legítimos donos, trabalhadores que não tiveram seus direitos integralmente respeitados ao longo da vigência do contrato de trabalho”.

 

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