Com a chegada do final de ano, é importante dedicar um tempo para os cuidados essenciais à casa. É nesta hora que muitas pessoas aproveitam para doar o que não usam mais, arrumam gavetas e armários, organizam melhor os ambientes, fazem uma reforma, incrementam o jardim, entre outras melhorias no lar. Afinal, é hora de deixar o novo entrar. Uma faxina diferente é bem-vinda - daquelas que não limpam apenas o visível. O fundamental é preparar os ambientes com aromas, intenções e até orações, quase um ritual para as festas de Natal e Ano Novo. A ideia é compor a casa com beleza, harmonia e os melhores sentimentos para receber pessoas queridas.
O arquiteto e escritor, Carlos Solano, encontrou na sabedoria das avós e tias um receituário da cultura popular para preparar o ambiente do lar e o coração de seus moradores com os melhores propósitos. Segundo ele, são receitas de viver bem que aprendeu ouvindo relatos de várias avós e de dona Francisca, mestra do arquiteto nas artes de cuidar da casa.
Solano explica que Dona Francisca foi sua faxineira por muitos anos e com ela aprendeu que as ervas e flores extraídas da natureza têm um potencial maravilhoso, com poderes curativos, de limpeza e regeneração, tanto para a casa quanto para seus moradores.
O arquiteto alerta que há quem acredite que estes ensinamentos da cultura popular são superstições, mas garante por sua vivência na trajetória com o projeto Casa Natural e a atuação com a Bioarquitetura, que essa sabedoria tem um desígnio maior e interfere no lar e na vida das pessoas. “Dona Francisca esclarece que este receituário não é superstição. Trata-se de um manancial imenso de pequenos conhecimentos. É um trabalho consciente com as forças da inteligência e da natureza agindo em conjunto”, destaca.
Um dos potencializadores das receitas de Dona Francisca é que, nesta época, metade do mundo está focada numa construção positiva, na pacificação e “até as guerras costumam parar”, reforça o arquiteto. Segundo ele, com a chegada da festa de Natal e a virada do Ano Novo, existe uma mudança psíquica no mundo. “É um tempo especial que perdura por alguns dias e esse estímulo movimenta nossas vidas. É o tempo das águas que fazem um convite à limpeza e à purificação”.
Mas como fazer essa limpeza na casa, para que ela entre em sintonia com esse momento que valoriza o bem, a doação, o amor, a união das pessoas? Solano dá algumas dicas simples que podem virar rotina e serem feitas especialmente em dezembro com um preparo que pode envolver as famílias, as crianças – todas voltadas para o sentido do final de ano, presente nas diversas comunidades e principalmente nos vilarejos do interior do Brasil. São receitas que revelam a força da simplicidade, da natureza, da cura e da transformação. Para ele, é na pureza do interior deste país, que os cuidados com a casa ganham muitos sentidos. “A natureza, os festejos e tradições, as artes e a sabedoria das avós estão ali para nos inspirar”.
Relíquias do receituário
Uma das receitas cabe bem dentro do balde na hora da limpeza. Basta ferver uma boa porção da erva hortelã e preparar um banho para o chão da casa. O hortelã é digestivo para o organismo humano, age também como um relaxante indicado nas horas de recolhimento e descanso. Na casa, o arquiteto esclarece que a erva faz uma limpeza dos registros psíquicos vivenciados no ambiente, levando embora as dores, os problemas, atritos familiares, depressão e gera uma nova sensação para o espaço.
Há também uma receita fácil de fazer que mistura num litro de água, 1/2 copo (americano) de vinagre, 1 colher (sopa) de bicarbonato de sódio, algumas gotas de detergente biodegradável e outras de limão. Depois é só passar o pano no chão, sempre em sentido dos cômodos do fundo até a porta da frente da casa.
O arquiteto também aconselha uma prática: o destralhar, ou seja, liberar coisas que não servem mais. Para isso, é preciso abrir os armários, separar o que deve ser dado para doação ou venda. “Essa prática dá uma sensação de leveza, um sentimento de desintoxicação e aos poucos a vida vai ser transformando para melhor”.
Além do chão e móveis que podem ficar limpos usando os saberes populares, as paredes também merecem atenção. Não é à toa que o ditado popular afirma que elas têm ouvido. “As paredes ficam impregnadas dos registros psíquicos de uma casa e para eliminá-los pode-se fazer as tradicionais varreduras com ramalhetes de alecrim e flores”, ensina Solano.
A vassoura da erva combinada com as flores funciona como um espanador de sentimentos e sensações que ficam armazenados nas estruturas das paredes e acabam deixando o ambiente mais denso. As ervas como o alecrim do campo, arruda e o hortelã são purificantes. Já a escolha das flores vai depender da intenção do morador. Rosas brancas são indicadas para buscar a pureza e inocência; flores amarelas intensificam a alegria, o aquecimento e a iluminação; vermelhas dão coragem, força e vitalidade; folhas verdes a restauração do ambiente, entre outras.
Solano lembra que a linguagem popular diz que “o mal não gosta de flores”. Vale tê-las nos vasos, canteiros, cachepôs em diversos ambientes de uma casa. “As flores espantam os sentimentos negativos e os pensamentos destrutivos. Escolha melhor onde colocá-las e deixe-as falarem silenciosamente. Elas dialogam 24 horas com entorno”, comenta.
Outra prática indicada é a salmoura. A mistura limpa e equilibra a energia do ambiente. Para fazê-la, deve-se colocar uma porção de sal grosso num prato com um pouco de água e misturar. O prato deve ser posicionado bem ao centro da casa e ficar lá por no mínimo 24 horas. Ao final, é possível observar a forma que a salmoura recebeu. Segundo Solano, essa imagem pode transmitir uma mensagem importante ao morador da casa.
A época de Natal é muito significativa, por isso a grande maioria das pessoas tem este costume de preparar a casa para o recebimento das visitas. “É fundamental criar um substrato formado por ordem, beleza e alegria. É uma estrutura física harmônica, alegre e positiva. Isso é feito com este sentido de preparar o espírito, já que o bem prevalece na esfera psíquica do mundo”, explica.
Leveza, conscientização e mais amor
Carlos Solano também diz que é possível deixar o cardápio das ceias mais leves e floridos, escolher alimentos que trazem significados, como o romã, símbolo maior da expansão dos dons e deixar aflorar os afetos e as emoções. Ele sugere um cardápio de sobremesas só com doces inspirados em flores, seja no sabor ou na ornamentação do prato. E por que não uma ceia vegetariana, livre dos sacrifícios animais?“Claro, sem impor nada a ninguém”.
Vale também preparar presentes criativos, artesanais, evitar embalagens de papel como consciência ambiental, investir nas brincadeiras, mensagens entre a família e os amigos, que podem ser trocados durante os encontros. Os símbolos de Natal também podem resgatar esses costumes populares, como a árvore das gratidões, que pode ser montada com cartões criativos escritos pelo núcleo familiar com palavras que remetem às gratidões individuais durante o ano. “Tudo o que é feito com as mãos tem a marca do coração. Elas são prolongamentos do coração”.
(Foto: reprodução)
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