Por Bruna Eduarda Brito, da AUN/USP
As mulheres que buscam informações sobre riscos e benefícios de cada tipo de parto e dos procedimentos relacionados não as recebem. É o que concluiu a dissertação da obstetriz Bianca Zorzam, da Faculdade de Saúde Pública. Ela notou também um alto número de mulheres, entre as entrevistadas, que foram convencidas pelos seus médicos a desistirem do parto normal.
O ministro da saúde do Brasil, Arhur Chioro, anunciou propostas para diminuir a quantidade de cesarianas e aumentar a de partos normais. A preocupação é justificada pelo alto índice de partos cesáreos realizados no país: cerca de 52%, enquanto a Organização Mundial da Saúde recomenda que ele seja de no máximo 15%. Segundo o Ministério da Saúde, o parto normal deve ser realizado sempre que possível, pois é menos arriscado para a mãe e o bebê. Cesarianas são recomendadas apenas quando há complicações.
No entanto, “A dificuldade de negociação esteve presente para aquelas que tentaram ter o parto normal com os médicos de convênio do pré-natal“, afirma Bianca. No geral, são usuárias de planos de saúde que acabam por realizar uma cesárea eletiva, aquela que é marcada muito antes da mãe entrar em trabalho de parto. “A insegurança sobre o próprio corpo, alimentada principalmente pelos médicos, leva a uma alternativa cirúrgica - a cesariana - para lidar com ela”, diz. Esse procedimento costuma ser escolhido por sua rapidez, cerca de 1 hora, em comparação com o parto normal, que dura um tempo indeterminado. No entanto, ele é perigoso, já que há mais riscos do bebê nascer prematuro
Violência obstétrica - Durante a pesquisa, Bianca também entrou em contato com mulheres que, independentemente de serem atendidas na rede pública ou privada, sofreram formas de violência obstétrica ainda mais graves. Muitas contam terem passado por intervenções não consentidas durante o parto normal. Uma das mais comuns foi a realização da episiotomia, corte cirúrgico feito entre a vagina e o ânus. Em alguns casos ele causa incontinência urinária e dificuldade de cicatrização, sem que haja benefício significativo para a mãe ou o bebê.
“O constrangimento diante das ironias e conveniências profissionais e institucionais são predominantes na maioria das entrevistas”, afirma Bianca. Ela também ouviu relatos de mulheres que foram ofendidas com agressões verbais de teor sexual durante o parto, como “na hora de fazer gostou, agora não reclama”. Situações como essa poderiam ser facilmente evitadas se a mulher estivesse acompanhada de alguém de sua confiança durante todo o processo. No entanto, Bianca conta que a negação desse direito foi muito relatada entre as mulheres, apesar de garantido em lei federal.
A pesquisadora relata a importância da criação de meios formais para que as mulheres possam denunciar as injustiças que sofrem durante a gravidez, o parto e o pós-parto. “Dessa forma, tais abusos poderiam ser classificados formalmente como um tipo de violência contra a mulher- a violência obstétrica”, defende. Bianca lembra do Projeto de lei PL 7633/2014, feito pelo deputado Jean Wyllys em parceria com a ONG Artemis. Se aprovado, ele pretende tipificar a violência obstétrica e trazer outras normas jurídicas para a humanização na assistência obstétrica. Para ela, outra medida importante é o apoio à formação de obstetrizes, capazes de favorecer maior acesso à informação e autonomia das mulheres no parto.
(Foto: reprodução)
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